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SAÚDE | Prontuários na nuvem: A segurança exigida pela LGPD sem comprometer o acesso médico emergencial

Introdução

A digitalização dos prontuários médicos representa uma evolução significativa na gestão de informações de saúde, oferecendo benefícios como acessibilidade, compartilhamento eficiente e preservação de dados. No entanto, com a implementação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) no Brasil, as instituições de saúde enfrentam o desafio de equilibrar a rigorosa proteção de dados sensíveis com a necessidade crítica de acesso rápido em situações emergenciais. Este artigo explora como as soluções de prontuários na nuvem podem atender às exigências de segurança da LGPD sem comprometer o acesso médico em momentos cruciais.

O cenário atual dos prontuários eletrônicos no Brasil

O Brasil tem avançado significativamente na adoção de prontuários eletrônicos, impulsionado por iniciativas como o Programa de Informatização das Unidades Básicas de Saúde (PIUBS) e a Estratégia de Saúde Digital para o Brasil. Contudo, a fragmentação dos sistemas, a infraestrutura tecnológica desigual e as preocupações com segurança e privacidade continuam sendo desafios importantes.

A migração para soluções em nuvem representa uma tendência crescente, oferecendo vantagens como:

A LGPD e os dados de saúde: requisitos específicos

A LGPD classifica informações de saúde como dados pessoais sensíveis, exigindo proteções especiais. Para prontuários eletrônicos, isso implica em requisitos específicos:

Bases legais para tratamento

O tratamento de dados de saúde pode ocorrer nas seguintes situações:

Princípios fundamentais aplicáveis

O dilema: segurança vs. acessibilidade emergencial

O principal desafio na implementação de prontuários na nuvem é equilibrar dois requisitos aparentemente conflitantes:

  1. Máxima segurança: Proteção rigorosa contra acessos não autorizados, vazamentos e violações de dados sensíveis, conforme exigido pela LGPD.
  2. Acesso emergencial imediato: Disponibilidade instantânea de informações críticas para profissionais de saúde em situações de emergência, quando minutos ou segundos podem fazer diferença entre vida e morte.

Este dilema exige soluções tecnológicas e processuais que possam satisfazer ambos os requisitos simultaneamente.

Soluções tecnológicas para conciliar segurança e acessibilidade

Autenticação multifatorial adaptativa

Sistemas modernos de prontuários na nuvem implementam autenticação multifatorial (MFA) adaptativa, que ajusta os requisitos de segurança conforme o contexto:

Controle de acesso baseado em funções e contexto (RBAC+)

O controle granular de acesso permite definir precisamente quem pode acessar quais informações e em quais circunstâncias:

Criptografia avançada com quebra de emergência

A implementação de criptografia robusta é fundamental, mas deve incluir mecanismos para acesso emergencial:

Registros imutáveis de auditoria

Para garantir conformidade e responsabilização, todos os acessos devem ser registrados de forma inalterável:

Protocolos de acesso emergencial em conformidade com a LGPD

Mecanismo “break-glass”

O protocolo “break-glass” (quebra de vidro) permite acesso emergencial a prontuários quando os procedimentos normais de autenticação poderiam causar atrasos perigosos:

  1. Ativação de emergência: O profissional de saúde indica que está em situação emergencial
  2. Acesso imediato: O sistema concede acesso temporário aos dados necessários
  3. Notificação automática: Supervisores e oficiais de proteção de dados são alertados
  4. Justificativa posterior: O profissional deve documentar a razão do acesso emergencial
  5. Auditoria obrigatória: Revisão do acesso para confirmar a legitimidade da emergência

Níveis progressivos de acesso

Implementação de um sistema de acesso em camadas que equilibra segurança e urgência:

Consentimento presumido com notificação posterior

A LGPD permite o tratamento de dados para proteção da vida, o que fundamenta o acesso emergencial:

Medidas organizacionais e de governança

Política de Privacidade e Segurança específica

Desenvolvimento de políticas claras que abordem especificamente o equilíbrio entre segurança e acesso emergencial:

Treinamento e conscientização

Capacitação contínua dos profissionais de saúde e equipe técnica:

Encarregado de Proteção de Dados (DPO) especializado em saúde

Designação de DPO com conhecimento específico do setor de saúde:

Tecnologias emergentes para prontuários seguros na nuvem

Computação confidencial (Confidential Computing)

Tecnologia que protege dados em uso, além da proteção durante armazenamento e transmissão:

Tokenização avançada

Substituição de dados sensíveis por tokens não sensíveis que preservam a utilidade clínica:

Federação de identidades para saúde

Sistemas que permitem autenticação unificada entre diferentes instituições de saúde:

Conformidade contínua e melhoria

Auditorias regulares

Implementação de programa de auditorias para garantir conformidade contínua:

Ciclo de melhoria contínua

Estabelecimento de processos para evolução constante dos sistemas:

Casos de uso e melhores práticas

Redes integradas de atenção à saúde

Implementação de prontuários na nuvem em redes que integram diferentes níveis de atenção:

Atendimento pré-hospitalar e emergências

Soluções específicas para cenários de emergência médica:

Telemedicina e monitoramento remoto

Integração segura de prontuários com soluções de atendimento à distância:

Conclusão

A implementação de prontuários na nuvem que atendam simultaneamente às exigências de segurança da LGPD e às necessidades de acesso médico emergencial é um desafio complexo, mas superável com a combinação adequada de tecnologias, processos e governança. As instituições de saúde devem adotar uma abordagem holística que considere tanto os aspectos técnicos quanto os organizacionais.

A chave para o sucesso está em reconhecer que segurança e acessibilidade não são objetivos mutuamente exclusivos, mas complementares. Sistemas bem projetados podem oferecer proteção robusta aos dados sensíveis dos pacientes enquanto garantem que, nos momentos críticos, os profissionais de saúde tenham acesso imediato às informações que podem salvar vidas.

À medida que avançamos na transformação digital da saúde, é fundamental que as soluções de prontuários na nuvem evoluam continuamente, incorporando novas tecnologias de segurança e adaptando-se às mudanças regulatórias. O objetivo final deve ser sempre proporcionar o melhor cuidado possível ao paciente, protegendo simultaneamente sua privacidade e seus dados pessoais sensíveis.

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